segunda-feira, outubro 30, 2006

Mente inventa amor, O corpo, não!


Minha mente inventa amor mas meu corpo, não.
Nada de amor quero inventar sozinha, como não quero um corpo magro, ressentido sem carícias. Prefiro o desmanche de tudo que provocas.
Ouço "vamos com calma", do mesmo que me acelera.
Confusa, lembro a mim que minha calma é
plena de sentir, beijar, acoplar, dormir
Mas é em mim.

No outro, é outro jogo.
Eu não sei dançar bem esse carteado de homem caloso.

Sou dança espontânea com pés descalços.
Voce vem, eu danço também.
Voce vai, eu danço mais.


Foto de Isadora Ducan

sábado, outubro 28, 2006

Tenta que o gol sai!


Uma mulher é sempre
uma única mulher.
Não é o Capela,

não é cerveja mas
é, como tudo e
homens

de uma deliciosa
existência
banal!
Uma mulher sabe
sorrir espuma e chorar
os bares que quer.
Assim como banal e doce é o olhar do

homem para o outro homem
com a bola no pé,
com tamanha
volúpia que não percebe a mulher a chutar na trave,desejosa do jogo, do drible!
No final do segundo tempo
ela quer gritar cúmplice: goooollllllllllllllllll e brindar:- À Nossa!
Dá prá bater um bolão nessa dividida.

Maristela trindade

Pólo Náufraga


Amore,
noite de náufraga cravada com o chicote da tempestade que parece, ninguém viu ou sentiu chegar.
Algum deslizamento no Pólo Norte provocou o desmanchar de tudo que era coisa em mim.

Assim, tive
que construir uma indesejada canoa, indo contra o maremoto que me inundava. Não fui eu que causei. Não haveria eu de ser a redentora, mas, cá estou voltando aos poucos para terra, e exausta de repetir voltar mas guardo em mim o saber que daqui a dois dias, estarei plena de um sorrir sem memória.
As águas param em movimento.
Ainda não cheguei em rua nenhuma, cafeteria alguma, tão pouco carioca à beira mar.
Quando voltar, eu sei, o cansaço durará o tempo dos afazeres, e eu virando-latas novamente, terei uma única certeza: que enquanto eu morria, um casal fazia amor com o cheiro das salinas.
Um ao menos, eu sei, no
Atlântico Pacífico.

letras ao amado Robson Leite

sexta-feira, outubro 27, 2006

Eu escrevo pedras

EU ESCREVO PEDRAS



Voce escreve poemas
Por vezes escrevo pedras.
Elas pontiagudas me encontram
acústica.

Escrevo duro fazendo barulhos!
Dou minhas pedras as água,
aos animais,
às possibilidades.
Escrevo e dou.

Provoco sons
com escrita dura.
Voce escreve,
o outro inspira e eu
expiro pedraspalavras

Pego o soro como um bicho sedento,
coloco na narina e aguento.
Debocho do contínuo pois amanhã,
o que será?
Zombo dessa desordem orgâniga
que me faz quase calcário em mutação.
Um pedaço de tonteira na beira do rio.

Rolo as pedras sem dicernimento
do lugar para onde vamos.
Com pedras se pode brincar.
Já eu, por vezes
escrevo pedras,
construo pedras
pedrapalavras


Marispedra Trindade

Emburacada na tua face

Emburacada na tua face


Um Poema de Amor


todas as mulheres
todos os beijos delas as
formas variadas como amam e
falam e carecem.

suas orelhas elas todas têm
orelhas e
gargantas e vestidos
e sapatos e
automóveis e ex-
maridos.

principalmente
as mulheres são muito
quentes elas me lembram a
torrada amanteigada com a manteiga
derretida
nela.

há uma aparência
no olho: elas foram
tomadas, foram
enganadas. não sei mesmo o que
fazer por
elas.

sou
um bom cozinheiro, um bom
ouvinte
mas nunca aprendi a
dançar - eu estava ocupado
com coisas maiores.

mas gostei das camas variadas
lá delas
fumar um cigarro
olhando pro teto. não fui nocivo nem
desonesto. só um
aprendiz.

sei que todas têm pés e cruzam
descalças pelo assoalho
enquanto observo suas tímidas bundas na
penumbra. sei que gostam de mim algumas até
me amam
mas eu amo só umas
poucas.

algumas me dão laranjas e pílulas de vitaminas;
outras falam mansamente da
infância e pais e
paisagens; algumas são quase
malucas mas nenhuma delas é
desprovida de sentido; algumas amam
bem, outras nem
tanto; as melhores no sexo nem sempre
são as melhores em
outras coisas; todas têm limites como eu tenho
limites e nos aprendemos
rapidamente.

todas as mulheres todas as
mulheres todos os
quartos de dormir
os tapetes as
fotos as
cortinas, tudo mais ou menos
como uma igreja só
raramente se ouve
uma risada.

essas orelhas esses
braços esses
cotovelos esses olhos
olhando, o afeto e a
carência me
sustentaram, me
sustentaram.

poema de Charles Bukowski



Eu queria passar um tempo nessa cara esburacada sendo o ouvido e os teus sons vividos.
Às vezes eu não erro. Destruo.
Tá aí o tempo-silêncio dizendo que nada vou conseguir consertar.
Faço xixi na rua quando louca ou quando apertada
e aprendi a levantar o queixo grande apesar de me ver toda errada.
Uma errata.
Prefiro a empáfia e o comedimento de saber que fiz, por falas alheias ou pela consciência atrazada do q não fazer.
Chove nas ruas a moral dos outros, o mundo dos outros, a mentira dos outros e
eu quero sol.
Às vezes da vontade de criar vacas prá ficar levinha mas não vou.
Se eu sou a que devo idoniedade a mim,
sou também a que tem que entender que sim.
Sim: faço muita merda e voce vê.
Faço uma inesquecível deixando os vestígios
e as marcas disso tudo
sou eu mesma.
Levanto novamente o queixo camuflando arrependimento, sigo em frente, de um lado, do outro lado e vou ouvindo Tom Waits, Lou Reed, Billie, batuques muitos e pronto.
Se a bebida me deflagra rancores, pudores, recalques,
que eles saiam de mim sambando.
Eu também não desejei nenhum dos tapas na cara que levei ou dei.
Sou som e dança.
Prá que fingir o TAO de ser felíz?

Buk, voce não teria nada com isso se não fosse os
buraquinhos na cara dos teus poemas onde eu quero passar as férias.


Allém de mim



“when it snows in your nose
you catch cold in your brain”

(Allen Ginsberg)

Querendo estar com Rilke


O poeta - Rilke


Já te despedes de mim, Hora.
Teu golpe de asa é meu açoite.
Só. da boca o que eu faço agora?
Que faço do dia, que faço da noite?
Sem paz, sem amor, sem teto,
caminho pela vida afora.
Tudo aquilo em que ponho afeto
fica mais rico e me devora.

R. M. Rilke - Tradç: Augusto de Campos

...................................

Então me devora noite e dia e
madrugadas afora, vazias
sem que eu escolha
os talheres
de prata ou mão.

Sem que eu esboce lamento,
sorriso,
constatação.
Os goles de vinho adiarão
em bem-estar os dias teus afetivos.

Maristela Trindade

quarta-feira, outubro 25, 2006

Tufo, Tufo, Tufo


Serei a marra mais desatada,
a que que amarra os " nãos"
nos "sins"
porq eu vou!
Tufo,
tufo,
tufo rolando no deserto menos rápido que os pneus dos meus olhos e o carro sem retrovisor que na estrada quebrou.
Por detrás das montanhas surgem frentistas em seus oásis querendo abastecer meu movimento numa parada indesejável.
Camelo bebe pouco, mas bebe prá se regozijar no sufoco.
Aceito a oferta pisando no freio a duzentos por hora... Uma generosidade implacável.
Mesmo para a gentil aparição, não serei mel porq sou acre e meu negócio é sal com gotas de azedume.
Mesmo assim será um tempero normal. Só assim será um prato experimental.
Comer onde não há comida, beber aonde não há bebida e correr velóz para continuar a ver os tufos passando pelo meu futuro, tufos, tufos, tufos

sábado, outubro 21, 2006

"Lá vem o homem, que matou o homem que... "


"Lá vem o homem que matou o homem que matou o homem mau."
"Lá vem o homem que matou o homem que matou o homem mau."
Trata-se de um caso policial. Ele é chamado de Poeta. Traz na boca palavras belas e debaixo da língua uma gilete estacionada esperando os pêlos e acertando em cheio a pele do amigo pelas costas.
Ele odeia as gentes, principalmente os que como ele, escrevem.
Uma agonia tão grande envolve esse cara que ele vive cuspindo disfarçadamente seu amargo nos livros dos caras. Mas rouba poemas e diz que são seus!
Locaço!
Não só os ratos enojam pessoas.
Cobras, lagartixas, animais gosmentos... E ele tinha essa devassa mente que se descabela com a existência desses "repugnantes"!

Repugnante é a capacidade que ele tem de odiar todos e parecer que não. Simular amar, gostar, sei lá...
Mais um suposto "são".
Pertence a uma raça hospedeira que nada de concreto desafia e só quer desafinar os cantos numa prática indecente de dissecação de cadáveres de poetas vivos.
Pois eu, uma eventual hospedeira, me enojo. Me enojo dos meus, dos seus, dos eus quando incendiamos o mundo com uma hipocrisia daninha, disfarçada de melodia querendo pisar-nos baratas.
Ele e outros são piores. Coleção de críticos desabilitados, que não evoluem nem bolas de sabão para que a ilusão seja plena.
E chamam os bêbados de "bêbados"! Os loucos de "loucos", as putas de "putas", com asco! asco! asco!
O bicho ruim acorda cedo porq ainda não dormiu sua peçonha e entre uma apresentação e outra de belas palavras e sorrisos, enche a cama dos parceiros com tachinhas douradas e finas pontiagudas.
Ele já feriu muitos. Prefere ferir do que matar para não ser pego em desatino.
Se por acaso voce for vítima do maldito, ao se deitar distraído perceberá que a convivência com esse homem, era o teu purgatório poético e com sorte, voce se erguerá sangrando e fará o teu trabalho com precisão.
Precisão. Procure a precisão. A escrita asfalteira e a distância certeira. Vai!
A polícia já fichou o cara. Ele matou um homem. Ao menos um, eu sei!
Falou tão mal dele para todos, extirpou-lhe as palavras dos eventos, minando-lhe a crença do cara singelo que em desvario pulou da janela do apartamento 1011 no Flamengo.

Eu conheço esse homem sem disfarce. Tenho uma marca nas minhas costas desenhada em dourado e eu tô vendo que voce também!
Cuidado. Ligue 22 e fuja sorrindo.
Tem gente atrás dele além dele mesmo. Um cara brabo que também já matou um homem mau. Tem um livro de cada um na casa dele autografado!- ao meu amigo, te dedico essas ditas!
Vem prá cá, vem pro palco que ele sai da sua mira!
"Lá vem o homem, que matou o homem, que matou o homem mal! Lá vem o homem, que matou o homem, que matou o homem mal! Lá vem o homem, que matou o homem, que matou o homem mal!"

segunda-feira, outubro 16, 2006

Imagina sorrir?


Imagina sorrir?

Largar o com puta dor
prá dar um beijo nela
que é tudo que me esfera

Deixar em casa a hérnia
prá tomar no chopp dela
e com proveito deslizarrr


Cheirar apenas noite,
fazendo amor e é nela
na passarela a beira-mar


Esquecer o bolso vazio,
mergulhar no quarto Lapinho
com os trocados que ela tá

e me chamando
e me embolando
e me tramando
e me cantando!

Jogar a língua da família
no forno da padaria
e só a ela eu esquentar

Tirar o olho da olheira
e rir pássaro pousadeira
na flor que ela me dá

Forget o doctor sombrio,
aproveitar todo carinho
e com ela suar "meu bem"

e me chamando
e me embolando
e me tramando
e me cantando!


Imagina?
Mas imagina?
Só se eu tivesse morto!
Só morto!
- ou melhor:
só se eu tivesse vivo!
Só se fosse muito vivo!
Vivo! Muito vivo e bem disposto.


sexta-feira, outubro 13, 2006

Eu abalo Sísmico. Voce minha Cisma.



eu preciso beijar voce deitar voce, me dar voce desvendar sua geografia perder a ironia de não te saber de cor se meu espelho me revela na calcinha vermelha encharcada de tudo que dentro em mim treme. Treme e torce líquidos que quase me afogam e se a minha fisiologia ainda não cometeu tal delito é porq expulsa o excesso quente e me cansa, descansa, dando-me a chance da espera. Logo eu que sou da dança me comprimo em celibato e erro tudo ao meu redor. Descompensada, quase dando risada dos atrapalhos que cometo te querendo. Que desvario é esse no bico dos meus seios, nos batimentos cardíacos, a falta de ar? Queria que a minha mão fosse a tua, meu dedo fosse o teu em penetra ação. Tens idéia da infinitude do meu corpo quando te imagino me tocar? Como se eu, um tanto miúda, ganhasse proporções de mar, de céu, de terras movediças e a velocidade da luz, lá longe, lá não sei onde! Com todas as músicas podendo vibrar em sons que ressonam de todo universo.
Eu abalo Sísmico.
Voce minha Cisma.

Maristela Trindade

quinta-feira, outubro 12, 2006


Os tremores corporais, sentir
Os apertos estomacais, desejo
O calar , "clamar" um beijo
As minúsculas, curiosa ansiedade
Os disfarces nas sentenças chamam o
alimento dentro.
O relaxamento da saudade, distanciamento.



Maristela Trindade, pintura de Ismael Nery

segunda-feira, outubro 09, 2006

Ponteiros




tu?
joga para fora do relógio
os ponteiros das tuas horas
nas horas dos teus encontros
sem tempo, sem endereços, sem desejos,
furtando do destino acasos previsíveis como um beijo, uma carícia,
boas palavras de uma humanidade quase cruel para teu devaneio.
Não segues por um caminho descabido.
Nem sequer é caminho. É um adentrar pela mata fechada
onde teu corpo se sente forte. Muito mais forte
do que quando tens o meu corpo no teu,
chamando pela lucidez da maior das alucinações que não se quer esquecida, não se quer última, não se quer palavra...se quer, se quer, te quer
e voce já foi.


- Pintura : "Relógios moles" de Salvador Dáli

domingo, outubro 08, 2006

Bebendo beats e comendo estrada


bebendo beats
e comendo estrada



Estrada,

o que quero?
Latência!
Dessas danadas que não sofre por nada.
Não ama, não duvida, não enciuma em qualquer parada...
Ser velóz, sem desmaio, sangria desatada
Sem se zangar mais que o momento
no momento exato.
Que não dorme mais do que o sonho,
que não corre pois vem vento,
admirando tufos rolando no deserto e a mágica
natureza esculpida dos Navajos.
Tem tempo para o baton, para os cabelos escorridos,
os chicletes,
o rádio no ouvido, a caneca de vinho ou algo mais
refrescante
e o livro na contra-mão
da sensação rascante.
É Latência.
Motor desligado, vou brincar paixão.
Parque de diversão ziguezagueando até
não ter ar de tanto rir, de tanto gozar a
vida.
Um sorriso tranquilo e "até logo" sem nenhuma pretensão de fornecer
mais gasolina do que o velho e bom Ford precisa
para continuar estrada, desprender memória.
Sem malas,
na estrada, o retrovisor quebrou.


obs: encolhidos por boa escolha no palco de cep, a eletrola verde "cheguei" bebeu Charles Parker. Uma luneta para cada um da audiência, e a gente táva lá! Vivendo o que é franzino e famigeradamente grande! Um beat stop. Guitarras rufaram! Os Beats encantaram!


mari