quinta-feira, dezembro 14, 2006

qualquer palavração que me leve a ação, qualquer olhar que me tire do estado de não observação, este local de dissecação de nada. prefiro os cadáveres e seus nervos, veias, e roupagem de pele aberta mostrando um mundo inanimado de realidades como um shopping center colorido, com pernas sem motivos, caminhando prá lá e prá cá. arrumar toda a bagunça de dias, anos, sempre todos os dias, desgastantemente sem sequer banho tomar. ou primeiro tomar banho para depois ficar suja limpando, limpando, limpando... a linguagem é apenas um apreço, um carinho da necessidade da alma - que alma? - enquantos as maritacas passam. que alívio ouvir as maritacas passando! eu ouvi! me chamou o canto que povoa o corpo de Manuel que observa o barro, a mata, os animais e nunca sentiu necessidade de nada mais para escrever à não ser continuar no seu templo-pantanal assim como a urbis-chacal. do lugar certo escolhido, pode-se mover os pés para qualquer direção. tudo nesse caso é companhia, é campainha, é o que será intenção e desenho. se eu continuar cega vou acabar vendo demais, mais e mais e só para dentro e tudo ficará escuro como um céu carregado de nuvens quando a água não cai. a chuva precisa molhar a terra e a terra precisa ser terra e ciclos se reciclarem e pronto. normalidade sem normas rígidas no encantamento do inesperado. é bom seguir meu próprio fluxo sem esperar tua necessidade de ouvir de mim algo que só cabe ao teu querer. eu me mereço eu, no esforço de me deixar ser. preciso encontrar um lugar para estar e ver melhor. o calor pré-natalino me faz desejar alguém, carinho, sorrisos, presentes. não me dou presentes ou me dou demais me jogando nas minhas necessidades, esquecendo tudo que é básico, trivial e responsável. mas responsável sou eu em dar conta de mim e desse fluxo desatinado. preencher o cheio com outras coisas abrindo a lata de lixo das coisas mais bem guardadas que não valem nada, nada para mim. o precioso me convém mas o que preciso é de precisão. nada de arrebatamentos como este que não me tira dessa máquina, com a sensação de que trezentas mil vozes vão me falar ao me ouvir, como se fôssem me ouvir. ninguém vai ouvir nada. esse ninguém sou eu que existo e que sou cobrada em ser alguém primordialmente eu a cobradora. me bastaria no momento a casa limpa e a tapeçaria. um certo silêncio dizendo que nada se faz necessário. nenhuma atitude eu tenho que tomar para que a vida ande, nenhuma que eu não tenha tomado. tomei atitude nenhuma, a urgência urge, as crianças existem e eu não estou embriagada nem com vinho, nem com livro nenhum nesse momento. não estou com nenhuma pena de mim. apenas não queria estar assim.
acentos demais, poderosos demais, medrosa demais mais ais ais! Ai de mim, quando a vida fica tão apertada e eu resolvo lamentar sem a porção de pragmática medéia.